sábado, 1 de maio de 2010

GRAVETOLATRIA OU GRAVETOMANIA?

GRAVETOLATRIA OU GRAVETOMANIA?


Antes de começar a escrever sobre isto, preciso dar uma definição pessoal de ambos os termos que intitulam este artigo. Evidentemente eles não existem na língua portuguesa, nem, que eu saiba, em outra língua qualquer... Tudo que sei é que isto veio à minha mente após algumas reflexões sobre algumas ocorrências relatadas por pessoas que tem como hábito freqüentar montes e lugares abertos para oração! As definições não são científicas ou teológicas, mas práticas, ou seja, numa linguagem coloquial:
GRAVETOLATRIA – Amor exagerado aos gravetos (neste caso, acesos ou incandescentes); apego à, ou veneração de.
GRAVETOMANIA – Mania de gravetos (neste caso, acesos ou incandescentes); mania de procurar por tais objetos em circunstâncias especiais, com reações especiais.

Particularmente, tenho muito prazer em orar em lugares diferentes e onde haja muita liberdade física. Gosto de participar de vigílias em chácaras, sítios, fazendas ou lugares abertos e ermos. Acho que há maior tranqüilidade e, consequentemente, maior possibilidade de concentração no ato de orar. Conta ainda, o fato de não incomodar vizinhos, visto que muitas igrejas estão localizadas em bairros residenciais e ladeadas por pessoas, que nem sempre professam a nossa fé, irritando-se com os barulhos gerados pelos cultos, principalmente quando estas são de confissão pentecostal.

Temos como grande exemplo disto o próprio Senhor Jesus que regularmente afastava-se dos grandes centros, dos lugares movimentados e da zona urbana, para ficar a sós com o Pai em oração.

Várias passagens bíblicas mostram-nos isto ocorrendo, inclusive com o mestre querendo afastar-se dos seus próprios discípulos para orar sozinho, mesmo que em várias outras circunstâncias costumasse orar juntamente com eles, como por exemplo, na noite de sua prisão e posterior julgamento (Mateus 26: 36-41). Você pode ainda conferir estes textos: Mateus 14: 23; Marcos 6: 46; Lucas 9: 29. Ainda há outras onde os apóstolos procederam da mesma forma. Portanto, retirar-se para orar, seja num monte ou mesmo numa planície, não é errado. Pelo contrário, pode ser bem melhor que orar num lugar onde teremos dificuldade de concentração e privacidade. O que ocorre, no entanto, é que, infelizmente, o hábito tem criado algumas distorções e interpretações equivocadas quanto ao propósito, ao método e aos efeitos deste tipo de prática de oração. Há os que acreditam que orar nos montes ou campos, torna a oração mais poderosa que dentro da igreja ou em seu próprio quarto, como também ensinou o Senhor Jesus: “Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará”. (Mateus 6: 6); outros acreditam que as manifestações de Deus tornar-se-ão mais evidentes em locais afastados e outros que Deus se agradará mais disto além de ouvir mais rapidamente, já que não há nenhuma barreira entre o céu e eles. No segundo grupo, estão aqueles que valorizam demasiadamente as manifestações físicas da oração. São estes que andam preocupados com um “fenômeno” muitas vezes relatado como sendo a manifestação da glória de Deus: o aparecimento de gravetos incandescentes.

Por diversas vezes ouvi de pessoas que participam deste tipo de oração, geralmente em grupo: “Ahhh, pastor, é tão grande o poder de Deus nestes lugares, que a gente vê gravetos acesos... Os gravetos pegam fogo mesmo! Se isto não é poder e glória de Deus, então o que é??!” Algumas destas pessoas (senão a maioria), tornam-se tão obcecadas pelos tais gravetos, que a reunião de oração onde isto não acontece não é considerada uma boa e abençoada reunião de oração. Conheço vários irmãos que freqüentam estes lugares unicamente interessados em presenciarem este tipo de “manifestação”. O pior, é que isto tem gerado polêmicas, entraves e discussões acaloradas sobre a autenticidade e legitimidade dos tais “gravetos acesos”! Já vi irmãos se aborrecerem uns com os outros a ponto de se tornarem inimigos dentro de uma mesma igreja em função do tema. Pessoalmente devo dizer que nunca vi tais manifestações, e, sinceramente, sem qualquer hipocrisia, não tenho nem um pouco de curiosidade ou desejo de ver, até porque isto nada acrescentaria à minha fé ou a minha crença no Todo-Poderoso. Para mim com graveto ou sem graveto, com milagre ou sem milagre... Deus continua sendo Deus! Não vejo (e digo isto com toda sinceridade) em que isto pode edificar as pessoas ou lhes trazer benefícios espirituais.

É verdade que vemos manifestações maravilhosas de Deus em toda a Bíblia Sagrada, mas também é verdade que temos poucos relatos de fatos semelhantes. Mesmo assim, em todas as situações havia propósitos específicos e grandiosos, para momentos especiais nas vidas dos profetas, sacerdotes e mesmo da nação de Israel ou da igreja. Para não tornar-me demasiadamente extenso e cansativo à leitura, citarei rapidamente alguns casos assim: No Antigo Testamento encontramos o caso de Moisés quando apascentava as ovelhas de seu sogro Jetro. Deus queria falar com ele de forma a motivá-lo para uma gigantesca obra de fé, ao pedir que tirasse o povo de Israel, do Egito. Então o Senhor aparece numa sarça ardente, um pequeno arbusto que queimava, mas não se consumia. Não me aterei às várias e possíveis explicações científicas para isto, porque creio genuinamente no que diz a Bíblia a respeito. Encontramos também a ocasião em que Moisés passara quarenta dias e quarenta noites no monte Horebe, e, quando desceu, seu rosto resplandecia a ponto de ter que cobri-lo com um véu para apresentar-se ao povo (aquí o povo precisava ver e crer que Moisés encontrara-se realmente com Deus). Outra vez encontramos Deus manifestando-se através do fogo quando Salomão inaugura o grande templo que havia construído para o Senhor em Jerusalém (o fogo era sinal de aprovação de uma casa para a qual todos deveriam dirigir-se para adorá-lo), e ainda podemos citar o caso do profeta Elias quando clamou e o Senhor consumiu com fogo o holocausto diante dos assustados profetas de Baal (o profeta mostrava que o responsável pela chuva e pela fertilidade da terra era o Deus de Israel e não Baal). No Novo Testamento, onde estas manifestações pouco aparecem, lembro o caso do Dia de Pentecostes quando foram vistas pelos poucos (em torno de 120) membros da recém fundada igreja neotestamentária, “línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles” (Atos 2: 3). Neste caso, era preciso confirmar a profecia de Joel, para a plena fundamentação da igreja como participante da era da graça com todos os dons espirituais à disposição! Temos antes disto, o episódio da transfiguração onde as vestes do Senhor Jesus resplandeceram enquanto orava com seus discípulos. Após estes casos, praticamente não encontramos relatos semelhantes na Bíblia. Não há nenhuma narrativa, nem sequer nos casos citados acima, de gravetos acesos ou incandescentes em orações particulares ou de grupos nas escrituras.

Concluímos, portanto, que não há nada de edificante ou benéfico para nós com os tais gravetos que se acendem. Quero, contudo, ressaltar que acredito sim que Deus possa fazer gravetos acenderem, aliás, creio que um dia Deus fará o planeta ser incendiado a ponto de ser transformado numa nova terra. Creio que Deus seja criativo a ponto de fazer coisas que não se limitam à Bíblia, mas jamais confundirão ou serão sem propósito! Todavia, não encontro respaldo bíblico algum para esta doutrina ou modismo, nem vejo qualquer milagre ocorrendo por conta disto. O que vejo são crentes tornando-se meninos na fé e extremamente arrogantes por acreditarem serem melhores que os outros ao verem este tipo de “manifestação”, com exceção, claro, de alguns. É bom lembrar: para toda regra, há exceção! Então aconselho: esteja atento para não tornar-se um “gravetólatra”, ou um “graveto maníaco”, procurando freqüentar reuniões de oração mais interessado nessas visões mirabolantes (embora - raramente - possam ser reais), que realmente em orar buscando comunhão com Criador, intercessão pelos santos, familiares, amigos e almas carentes de Cristo! Vale a recomendação ao apóstolo Paulo:

“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, mas logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino” (I Coríntios 13: 11)

Vivamos a fé verdadeira naquele que tudo pode, porém sem direcionar esta fé em propósitos irracionais, emocionais ou fantasiosos, por mais reais que sejam as manifestações! Glória ao Deus, que é um fogo consumidor! (Pr. Jesiel Freitas)


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